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sábado, 3 de dezembro de 2011

A redescoberta das igrejas ucranianas


VIDA E CIDADANIA
(GAZETA DO POVO, Publicado em 02/03/2008 | MARIA GIZELE DA SILVA)

Ponta Grossa – Elas estão escondidas em pequenas construções de madeira na área rural, mas também ocupam áreas centrais dos municípios paranaenses. As igrejas ucranianas são o símbolo mais expressivo da cultura desse povo – a segunda principal etnia no Paraná, atrás dos poloneses, em número de descendentes. Para resgatar a importância dessas construções para a formação da identidade cultural nacional está sendo desenvolvido o projeto Arquitetura da imigração no Paraná – capelas ucranianas: uma documentação necessária pelo Instituto ArquiBrasil, de Curitiba.
Patrocinado pelo programa Petrobras Cultural, o levantamento começou em novembro de 2007 para ser concluído em dezembro deste ano. Das 190 igrejas visitadas pela equipe do projeto, as 20 mais importantes estão sendo catalogadas. O resultado da pesquisa será demonstrado em livros, CDs e na formatação de uma exposição itinerante. Além de escolas e bibliotecas, o material será levado às comunidades onde as igrejas estão localizadas. “Nosso desejo é sensibilizar essas comunidades para que elas percebam a importância da construção e zelem pela sua preservação”, afirma o arquiteto Key Imaguire Júnior, consultor do projeto.
Além da influência da cultura ucraniana, representada pelos bordados e pelas pêssankas (ovos pintados), a arquitetura das capelas expressa o modo de pensar dos descendentes. No lugar de torres com cruzes voltadas para o alto estão as cúpulas e, para substituir as imagens de santos, aparecem os ícones que são pinturas típicas da etnia. Os ícones estão no altar, que é separado do público por uma parede transparente. As cruzes latinas, que têm as extremidades retas, são trocadas pelas gregas, cujas pontas são arredondadas. Outra característica das capelas ucranianas é a construção em madeira de araucária, que era material farto no Paraná do início do século 20, em vez da alvenaria.
O bispo auxiliar da diocese ucraíno-católica, em União da Vitória, dom Daniel Kozlinski, explica que as cruzes gregas representam a simbologia do rito bizantino e as cúpulas arredondadas demonstram o zelo de Deus sobre seus seguidores. “As cúpulas lembram o amor de Deus que nos cobre com a sua proteção”, comenta. Dos 500 mil descendentes de ucranianos que moram no Brasil, cerca de 90% são católicos, conforme o bispo.
A historiadora ucraniana Oksana Boruszenko, especialista em movimentos migratórios, afirma que 78% dos descendentes vivem no Paraná, sendo que os demais estão em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Os antepassados começaram a chegar em 1891, mas a principal leva de imigrantes ucranianos ocorreu quatro anos depois.
O avanço da dominação napoleônica na Europa e a falta de terras para os ucranianos trabalharem na agricultura, aliada ao período de pós-abolição da escravatura brasileira, favoreceram a instalação dos ucranianos no Brasil. No Paraná, eles encontraram condições favoráveis para desenvolver as culturas de trigo, na região central do estado, e de café, no Norte, expandindo-se para outras áreas nos dias atuais.


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