arquitetura e urbanismo (história da arquitetura, projeto de arquitetura)
sobre o livro
Presentes na arquitetura curitibana, essas construções tão pouco vistas nos dias atuais, as casas de araucária marcaram as construções no século XIX e foram produzidas significativamente até a década de 70. Além de proporcionar conhecimento técnico sobre o tema, o livro traz um passeio pelo modo de morar e construir da Curitiba do passado, chamando atenção para a importância da conservação dos últimos remanescentes desta importante arquitetura.
Os volumes divididos por autores congregam desde a tipologia das casas através de classificação, sistema construtivo e tamanho das peças, trabalho de pesquisa realizado por Key Imaguire Junior e Marialba Rocha Imaguire e intitulado A casa de Araucária, como as questões sociais e econômicas, a imigração e suas influências, a relação do sistema construtivo com a forma de viver das pessoas, no volume escrito por Fábio Domingos Batista cujo título é A casa de madeira, um saber popular. Já o volume de Andréa Berriel, A tectônica e a poética das casas de tábuas aborda as novas tecnologias desvendando o que o sistema construtivo em madeira dispõe hoje, resgate contemporâneo, apontando quais possibilidades existem hoje para a construção de uma casa de madeira.
O Ministério da Cultura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realizam, nesta quinta-feira (15), solenidade de premiação aos projetos paranaenses contemplados pelo 24ªPrêmioRodrigo Melo Franco de Andrade. Este é o mais importante reconhecimento a iniciativas de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro.
Quatro projetos foram selecionados pela comissão estadual de avaliação: ‘Curitibaentra na roda’, de Liliana Porto; ‘Educação patrimonial – Paço da Liberdade’, do Sesc-PR; ‘Mapeamento social das benzedeiras dos municípios de São do Triunfo e Rebouças’, do Movimento Aprendizes da Sabedoria; e ‘Inventário da arquitetura residencial em madeira na cidade de Curitiba’, de Key Imaguire, Marialba Rocha Gaspar, Fábio Domingos Batista e Andréa Berriel.
Conquista nacional
Dos quatro projetos indicados pela Superintendência Estadual do Iphan, dois conquistaram a premiação nacional. Na categoria “Pesquisa e inventário de acervos”, o prêmio foi para a ampla pesquisa sobre arquitetura das residências de madeira de Curitiba construídas entre o final do Século XIX e a década de 1970. O projeto resultou na publicação de um box com três livros assinados pelos arquitetos Key Imaguire, Marialba Rocha Gaspar, Fábio Domingos Batista e Andréa Berriel, além de exposições em escolas da capital.
Segundo Fábio Domingos Batista, um dos autores, a publicação buscou popularizar a pesquisa sobre as características da “casa de araucária”, símbolo da paisagem urbana de Curitiba desde o final do Século XIX: “Tínhamos um rico material, mas que era restrito ao meio acadêmico. Queríamos que mais pessoas tivessemacessoa ele”. O lançamento dos livros ocorreu em maio deste ano e está disponível em todas as bibliotecas públicas municipais.
A outra iniciativa vencedora mapeou benzedeiras dos municípios de São João do Triunfo e Rebouças, próximos de Irati, na região centro-sul do Paraná. O trabalho identificou 294 pessoas com ofícios epráticastradicionais como benzimentos, rezas, curas, simpatias, costuras de rendidura e uso de ervas e plantas medicinais, entre outras. Este projeto, realizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (Masa), foi vitorioso na categoria “Salvaguarda de bens de natureza imaterial”.
Além do mapeamento social das benzedeiras, a ação conseguiu uma política pública de salvaguarda desta prática: em Rebouças, o reconhecimento dos ofícios tradicionais de cura e o livre acesso às plantas medicinais estão respaldados por uma lei municipal. Um decreto também garantiu a criação de uma comissão desaúdepopular no município. Para Taisa Lewitzki, aprendiz de benzedeira do Masa, o resgate da identidade coletiva foi a grande conquista deste projeto: “No início do mapeamento vimos que muitas pessoas não se reconheciam como benzedeiras e hoje vemos que elas têm orgulho disso”, afirma. [michel.prado@cupola.com.br]
Serviço
Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade Quinta-feira, 15 de dezembro, às 18h30 Memorial de Curitiba (Rua Claudino dos Santos, 79. Centro)
Após a premiação, show com o grupo Serenô Sambas e Afins
No dia 15 de dezembro de 2011 ocorreu a cerimônia de premiação da seleção paranaense do 24° Prêmio Rodrigo de Melo Franco Andrade.
A cerimônia premiou os quatro selecionados no estado do Paraná, dos quais dois projetos foram premiados nacionalmente.
Cerimônia de Premiação
Categorias:
Pesquisa e Inventários de Acervos Arquitetura Residencial da Madeira de Curitiba
Proponente: Fábio Domingos Batista premiado na edição nacional
Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial Mapeamento Social das Benzedeiras dos Municípios de São João do Triunfo e Rebouças no Estado do Paraná
Proponente: Movimento dos Aprendizes da Sabedoria-MASA premiado na edição nacional
Educação Patrimonial Educação Patrimonial: Paço da Liberdade
Proponente: SESC-Paço da Liberdade
Promoção e Comunicação Curitiba Entra na Roda
Proponente: Liliana de Mendonça Porto
Cerimônia de Premiação
Fábio Domingos Batista, Rosina Parchen, José La Pastina, Andréa Berriel, Marialba Imaguire
Formar uma grade rede que integre e compartilhe informações a respeito das ações vencedoras em cada categoria do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Esta foi a temática do café colonial que reuniu, no camarote presidencial da Sala Villa Lobos, do Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília, o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, Luiz Fernando de Almeida, a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Márcia Rollemberg, e os sete agraciados na etapa nacional da 24ª edição da premiação instituída pelo Iphan. A partir das 18h30 desta quarta-feira, dia 19, eles voltam ao teatro, ao lado da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, para a entrega da premiação.
Durante o encontro, Luiz Fernando de Almeida se disse orgulhoso da homenagem aos premiados já que o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade representa o reconhecimento do Iphan às ações de proteção e valorização do patrimônio cultural realizadas por agentes da sociedade civil. Segundo o presidente do Iphan, “essas iniciativas reforçam a ideia de que promoção e proteção do patrimônio cultural devem ser compartilhadas”. Ele também ressaltou que o grande número de ações inscritas, que este ano chegou a 230, consolidam o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade como um grande instrumento de reconhecimento da importância e valorização dessas iniciativas.
Já Márcia Rollemberg, que deixou recentemente a direção do Departamento de Articulação e Fomento – DAF/Iphan, reforçou a necessidade de formação da rede entre os vencedores “como uma forma de divulgação de suas ações, mas principalmente, para a criação de um fórum sobre o patrimônio cultural brasileiro onde seja possível a troca de experiências e de metodologias para incentivar, também, a realização de outros projetos voltados para o campo do patrimônio”. Agora, como secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, ela se comprometeu a continuar trabalhando no fortalecimento das políticas de valorização da cultura, sempre focando na dimensão da cidadania, reforçando as manifestações regionais e estaduais.
O Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade é editado anualmente pelo Iphan para valorizar o patrimônio histórico e cultural do Brasil, homenageando pessoas e entidades que não medem esforços para desenvolver e implantar ações preservacionistas e de educação patrimonial. Este ano, está inserido nas comemorações do Ano Internacional do Afrodescendente e homenageia os 100 anos de nascimento do artista plástico Carybé.
Criado em 1987, o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, criado em 1987, é constituído de um troféu, um certificado e um prêmio estímulo de R$ 20 mil. São sete categorias:
• Promoção e Comunicação
• Educação patrimonial
• Pesquisa e inventário de acervos
• Preservação de bens Móveis
• Preservação de bens Imóveis
• Proteção do patrimônio natural e arqueológico; e
• Salvaguarda de bens de natureza imaterial
Os 230 inscritos passaram pela avaliação estadual nas superintendências do Iphan em todo o Brasil. Os 81 projetos finalistas foram avaliados pela Comissão Nacional de Avaliação, que no último dia 15 de setembro, em Brasília, indicou os sete premiados.
Na cerimônia do dia 19 de outubro, o Iphan também fará a entrega do Prêmio Viva Meu Mestre, uma parceria do Iphan com a Fundação Cultural Palmares e as Secretarias Executivas de Identidade e Diversidade Cultural e de Políticas Culturais do Ministério da Cultura. O Prêmio Viva Meu Mestre visa apoiar a transmissão dos conhecimentos tradicionais ligados à prática da Capoeira e a valorização dos mestres e mestras que se destacaram ao longo da vida na transmissão dos saberes dessa prática cultural afrobrasileira.
Após a entrega dos prêmios, os vencedores e o público serão brindados com dois shows. Estarão no palco da Sala Villa Lobos, a cantora Renata Jambeiro e o sambista carioca Diogo Nogueira, com a turnê Sou Eu. A festa é aberta ao público que poderá retirar seu ingresso gratuitamente na bilheteria do Teatro, no dia 19 de outubro, a partir das 14h.
Premiados da 24ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
Categoria Promoção e Comunicação
Ação: Projeto Turista Aprendiz
Proponente: Maracá Produções Artísticas e Culturais – São Paulo/SP
Categoria Educação Patrimonial
Ação: “OjóOdê” e “Afoxé AyóDelê”- Vivências Afrobrasileiras
Proponente: Espaço Cultural Vila Esperança – Goiás/GO
Categoria Pesquisa e Inventário de Acervos
Ação: Inventário da Arquitetura Residencial em Madeira
Proponente: Fábio Domingos Batista – Curitiba-PR
Categoria Preservação de Bens Móveis
Ação: Projeto Luzitânia
Proponente: Sociedade Canoa de Tolda – Sociedade Socioambiental do Baixo São
Francisco – Brejo Grande/SE
Categoria Preservação de Bens Imóveis
Ação: Ouro Preto - Um Novo Modelo de Gestão de Cidades Históricas
Proponente: Prefeitura Municipal de Ouro Preto – Ouro Preto/MG
Categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico
Ação: Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos
Proponente: Instituto Cultural Cidade Viva – Rio de Janeiro/RJ
Categoria Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial
Ação: Mapeamento Social das Benzedeiras dos Municípios de São João do Triunfo e
Rebouças do Estado do Paraná
Proponente: Movimento dos Aprendizes da Sabedoria – MASA – Irati/PR
Rodrigo Melo Franco de Andrade
O advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade nasceu em 17 de agosto de 1898, em Belo Horizonte. Foi redator-chefe e diretor da Revista do Brasil. Na política, foi chefe de gabinete de Francisco Campos, atuando na equipe que integrou o Ministério da Educação e Saúde do governo Getúlio Vargas. O grupo era formado por intelectuais e artistas herdeiros dos ideais da Semana de 1922.
Rodrigo Melo Franco de Andrade comandou o Iphan desde sua fundação em 1937, até 1968. O prêmio foi criado em 1987 em reconhecimento às ações de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro. Seu nome é uma homenagem ao primeiro dirigente da instituição.
Serviço
Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
Data: 19 de outubro de 2011
Horário: 18h30
Local: Sala Villa Lobos – Teatro Nacional de Brasília
Um levantamento feito em Curitiba sobre a localização e as características das residências construídas com madeira por imigrantes asiáticos e europeus venceu a etapa nacional do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Realizado em 2010, o Inventário da Arquitetura Residencial em Madeira ficou em primeiro lugar na categoria Pesquisa e Inventário de Acervos.
A partir da década de 1970, quando as araucárias passaram a ficar escassas e as construções de alvenaria dominaram o mercado, as casas de madeira começaram a desaparecer. Foi para guardar a memória dessas residências que surgiu o projeto, sob a coordenação de Fábio Domingos Batista. Os vencedores ganharão um troféu, um certificado e R$ 20 mil.
Os maus-tratos destinados às casas da Fazendinha, na Vila Planalto. A casa restaurada que serve de abrigo para crianças, a igreja da Metropolitana e o Museu. acima, construções no Núcleo Bandeirante nas décadas de 60/70 e 80
Para que Brasília pudesse existir em concreto, foi necessário o suporte da arquitetura em madeira. Sem ela, não havia possibilidade de construir a capital moderna. Com tábuas, pregos, martelos e serrotes, ergueram-se hospitais, alojamentos, casas, escritórios, oficinas, depósitos, restaurantes, clubes, cinemas, serrarias, carpintarias, matadouros, mercados. Patrimônio histórico que foi negligenciado ao longo do tempo e que hoje se reduz a meia dúzia de unidades restauradas e a dezenas de construções que estão apodrecendo.
Quando o Plano Piloto foi inaugurado, havia ao seu redor mais de meia dúzia de pequenos aglomerados urbanos, todos feitos em madeira — Vila Planalto, Vila Paranoá, Núcleo Bandeirante (incluindo a Metropolitana e a Divineia), Candangolândia, Vila Telebrasília, resquícios da Vila Iapi e pequenas vilas nos arredores do Park Way e da Avenida das Nações. Era a comprovação histórica de que Brasília havia sido construída por 60 mil homens e mulheres que viveram, trabalharam, amaram, sofreram e moraram nos arredores da arquitetura e do urbanismo moderno. Ainda em 1958, Israel Pinheiro anunciava a existência de mais de 300 unidades em madeira, ao todo 47,5 mil metros quadrados de área construída. Antes de ser de concreto, Brasília foi de madeira.
Mais exemplar conjunto de arquitetura em madeira preservado na cidade, o Museu Vivo da Memória Candanga surgiu das ruínas do HJKO, o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira, construído em 1957 pelo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (Iapi). Não foi uma conquista de mão beijada. Para conseguir o tombamento das 13 construções em madeira, a população do Núcleo Bandeirante e da Candangolândia conseguiu, depois de muito barulho, evitar a demolição do conjunto, até que a Secretaria de Cultura do Distrito Federal baixou o Decreto nº 9.036, de 13 de novembro de 1985, que transformou as unidades em patrimônio histórico e artístico de Brasília. Foi só o começo. Garantida a proteção do Estado, era preciso restaurar as casas, os galpões e a sede do antigo hospital.
Passado um quarto de século, o exemplo parou nele mesmo. Salvo cinco outras restaurações (ver quadro) e algumas conservações feitas pelos moradores, todo o restante do patrimônio em madeira ou está sendo devorado pelos cupins, ou deu lugar a alvenaria. Peças importantes, como a Igreja de São Geraldo, na Vila Paranoá, e o Toy Club, no Núcleo Bandeirante, caíram de podre. Outras, como uma das cinco unidades residenciais do Conjunto Fazendinha, não está longe disso.
Não existe nem no Governo do Distrito Federal nem na Superintendência do Iphan em Brasília projeto definido para restauração desse patrimônio. O que há no horizonte remoto é o projeto de recuperação de uma das casas da Fazendinha pela Secretaria de Desenvolvimento e Transferência de Renda. Mas tudo ainda é muito vago: espera aprovação do Iphan e de votação pela Câmara Legislativa do Plano Plurianual do DF. O restauro das demais depende de “vontade política”, como admite o subsecretário da Administração de Brasília, Luciano Lucas da Silva, nascido e criado na Vila Planalto e defensor da reforma das casas de tábua.
Os responsáveis pela proteção ao patrimônio em madeira na capital do país têm muito a aprender com a Superintendência do Iphan no Paraná. A começar do lugar onde está instalada sua sede: numa casa de madeira construída por volta de 1920 e que foi transplantada do lugar de origem para a Rua José de Alencar, no bairro de Juvevê, em Curitiba. “A arquitetura em madeira é muito fácil de ser feita e muito difícil de ser conservada, mas conseguimos preservar nossos melhores exemplares e de um modo que um particular não teria condições de fazer”, explica José La Pastina, superintendente do Iphan no Paraná.
A fórmula é a seguinte: o Iphan compra a casa (mas não o terreno), faz um levantamento completo de sua arquitetura, desmonta toda a estrutura, numera peça por peça e a remonta em outro lugar. “Como os terrenos de origem ficaram muito valorizados, não tem outra saída. É comprar a casa e mudá-la de lugar.”
Ironicamente, o Paraná foi o estado que mais forneceu madeira para a construção de Brasília. Vale novamente lembrar que o madeiramento serviu não apenas para erguer as construções provisórias, mas — principalmente — para fazer a forma das edificações em concreto. “Desde a década de 1950, o Paraná era um grande centro exportador de madeira, especialmente o pinho, retirado da grande floresta de araucária que cobria o Estado”, ensina La Pastina. A exploração predatória da madeira reduziu a floresta a apenas 1% de seu tamanho original. Restou o cuidado que o Patrimônio Histórico do Estado destina às casas que foram originalmente construídas pelos imigrantes europeus, especialmente poloneses e ucranianos.
O zelo com que o Paraná cuida do patrimônio em madeira mereceu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade deste ano. O premiado Inventário da Arquitetura Residencial em Madeira de Curitiba, levantamento feito pelos arquitetos Key Imaguire, Marialba Rocha Gaspar, Fábio Domingos Batista e Andréa Berriel, bem poderia servir de espelho para os responsáveis pela proteção ao patrimônio histórico da capital do país.
Há oito anos no cargo, o superintendente do Iphan em Brasília, Alfredo Gastal, tem um levantamento do patrimônio em madeira feito antes de ter assumido a função. De lá para cá, nada foi feito. Gastal diz que o problema fundiário de Brasília dificultou a proteção dos bens em madeira. E alega também a falta de recursos humanos e financeiros: “Tenho apenas quatro funcionários, dos quais dois são arquitetos, eu e a chefe da divisão técnica”.
Sem poder contar com a proteção do Estado, a preservação do patrimônio em madeira depende de iniciativas particulares. Três delas merecem o reconhecimento público: as duas casas de arquitetura em madeira típica dos Estados Unidos nos anos 1950, na Vila Tamboril (Vila Planalto), que estão inteiramente preservadas, e uma garbosa casa azul com janelas e portas brancas, no Conjunto Fazendinha, também na Vila Planalto, que pertence ao GDF. A unidade foi restaurada, pouco a pouco, por iniciativa da diretora da Casa Abrigo, Gláucia Gomes, vinculada à Ampare-DF (Associação de Mães, Pais, Amigos e Reabilitadores de Excepcionais), da qual é fundadora.
Consertando aos poucos
Moradora da Vila há 35 anos, Gláucia precisava de um lugar para abrigar crianças com severa deficiência física e mental. Em 1994, a casa estava “um bagaço”, lembra-se a educadora. Paulatinamente, ela foi restaurando e reformando o que precisava de cuidados, sempre com a orientação do Iphan. “Mudamos o piso, porque as crianças precisavam de um chão seguro, e trocamos a fiação elétrica”, conta Gláucia. Houve mudanças também na cozinha e nos banheiros. As janelas mantiveram as armações originais, mas foram revestidas por dentro com blindex, por medida de segurança.
Construída em 1959, a casa abrigava servidores da Presidência da República e depois passou a ser moradia de servidores do alto escalão do GDF. Foi construída no acampamento da Pacheco Fernandes, construtora responsável pela obra do Palácio do Planalto. Nela moraram, entre outros, segundo Gláucia, Amália Geisel, filha do então presidente Ernesto Geisel, o ex-deputado federal Jofran Frejat e o ex-governador José Roberto Arruda, no tempo em que era servidor da CEB (Companhia Elétrica de Brasília).
É uma edificação sofisticada. Os armários embutidos, de madeira, têm treliça de ventilação. A sala é bastante espaçosa e arejada. O corredor que dá acesso aos três quartos é largo e claro. Um dos quartos tem closet (também de tábua). Havia uma piscina redonda (que foi coberta de terra, porque representava risco para as crianças), um galinheiro (hoje desativado) e uma guarita, tudo restaurado.
A manutenção de uma casa de madeira é muito mais dispendiosa que a construção de uma nova em alvenaria. “Às vezes, o conserto de uma janela fica mais caro que fazer um cômodo de tijolos”, compara Gláucia. As abas das janelas da casa foram fabricadas no Rio Grande do Sul. Tábuas que precisam ser trocadas são obtidas numa marcenaria especializada de Brasília. O segredo, diz a educadora, é fazer reformas periódicas. “Quando alguma coisa começa a estragar, mando consertar.”
É espantoso o contraste entre as duas casas vizinhas uma da outra, a da Ampare e a que era utilizada pela Kolping, instituição alemã de assistência social. A primeira é um primor de conservação; a segunda, invadida, tem tábuas podres, fiação exposta, janelas quebradas, telhado capenga. O Correio esteve lá, na quinta-feira pela manhã, mas nenhum morador apareceu à porta. No mesmo conjunto, uma outra casa, a maior das cinco, está sendo ocupada pela gerência de obras da Administração de Brasília. Suas condições também são deploráveis. “Estamos planejando mudar a gerência para outro local, possivelmente no Parque da Cidade, para fazermos a restauração da casa”, informa Luciano Lucas, mas não há data prevista nem para a mudança, nem para a reforma.
Até o mais simbólico dos monumentos em madeira da cidade, o Catetinho, padece os efeitos do desinteresse. No mês em que comemora 55 anos (foi inaugurado em 10 de novembro de 1956), o Palácio de Tábuas permanece fechado por tempo indeterminado. O subsecretário do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Secretaria de Cultura, José Delvinei Santos, alegou ao Correio, na semana passada, dificuldades para encontrar empresas especializadas em restauro. “Existem muitas no Brasil”, informa o superintendente do Iphan no Paraná, que amanhã inaugura outra restauração em madeira, a da graciosa Igreja de São Miguel Arcanjo, na Serra do Tigre, município de Mallet (PR), construída há mais de um século por imigrantes ucranianos.
O que restou
RESTAURADOS
» Catetinho (fechado à espera de nova restauração)
» Museu Vivo da Memória Candanga
» Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, Vila Planalto
» Igreja Nossa Senhora de Fátima, Metropolitana
» Centro de Ensino da Metropolitana
EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
» Duas casas na Rua 2, Vila Tamboril, Vila Planalto
» Sede da Ampare, no Conjunto Fazendinha, Vila Planalto
» Casa na Vila Telebrasília
» Casa na Metropolitana
» Casa do Pioneiro, no Núcleo Bandeirante
Um levantamento feito em Curitiba sobre a localização e as características das residências construídas com madeira por imigrantes asiáticos e europeus venceu a etapa nacional do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Realizado em 2010, o Inventário da Arquitetura Residencial em Madeira ficou em primeiro lugar na categoria Pesquisa e Inventário de Acervos.
A partir da década de 1970, quando as araucárias passaram a ficar escassas e as construções de alvenaria dominaram o mercado, as casas de madeira começaram a desaparecer. Foi para guardar a memória dessas residências que surgiu o projeto, sob a coordenação de Fábio Domingos Batista. Os vencedores ganharão um troféu, um certificado e R$ 20 mil.
Inventário sobre casas de madeira é vencedor do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
Pesquisa registra a criatividade de imigrantes asiáticos e europeus que usaram madeira típica da região sul do Brasil para construção das famosas Casas de Araucária
As famosas e gigantescas araucárias, típicas na região sul do Brasil, foram a inspiração para os imigrantes da Europa e da Ásia que chegaram ao país a partir do século XIX construírem suas casas, especialmente no Paraná. Foram tantas as construções com a madeira que passaram a ter um nome próprio: Casa de Araucária. No entanto, a partir da década de 1970, quando as árvores começaram a ficar escassas e as construções de alvenaria passaram a dominar o mercado, as casas de madeira passaram a correr um sério risco de desaparecerem. O Inventário da Arquitetura Residencial em Madeira, realizado em Curitiba, em 2010, focou nessas residências identificando sua ocorrência, localização, e estudo tipológico, e venceu a etapa nacional da 24ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, instituído pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, na categoria Pesquisa e Inventário de Acervos.
A premiação será no próximo dia 19 de outubro na Sala Villa Lobos, do Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília, a partir das 18h30, com a presença da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e do presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida. O prêmio é constituído por um troféu, um certificado e R$ 20 mil. Vencedores e público serão brindados com shows da cantora Renata Jambeiro e do sambista carioca Diogo Nogueira, com a turnê Sou Eu.
A arquitetura de madeira ainda é muito presente nas paisagens urbanas e rurais do Brasil. Sua produção mais significativa foi na região de Curitiba em função das primeiras serrarias a vapor que tiram partido da floresta de araucária, com matéria prima abundante e de qualidade. O estilo dessas casas é singular e reflete a cultura dos grandes contingentes de imigrantes que chegaram ao Brasil nos finais do século XIX. A flexibilidade do sistema e a criatividade dos mestres carpinteiros resultaram em uma arquitetura bem diversificada e rica em detalhes, com grandes influências arquitetônicas, do Neoclássico, Eclético, e Moderno.
Com o crescimento do setor imobiliário, muitas casas de madeira foram demolidas e não há na cidade instrumentos de preservação das que ainda existem. Foi para guardar a memória das casas de madeira curitibanas que surgiu o projeto Inventário da Arquitetura Residencial em Madeira, realizado sob a coordenação de Fábio Domingos Batista. Esta é a primeira publicação acessível ao público sobre o tema. O projeto apresenta uma caixa com três publicações: A casa de Araucária, de Key Imaguire e Marialba Rocha Gaspar Imaguire, A casa de madeira, um saber popular, de Fábio Domingos Batista, e A tectônica e a poética das casas de tábuas, de Andréa Berriel. Eles são o resultado da revisão de pesquisas acadêmicas e de pesquisa histórica bibliográfica, levantamento de campo e arquitetônico. Além da publicação, a pesquisa gerou uma exposição itinerante que tem percorrido escolas, bibliotecas e faculdades de arquitetura.
Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
O Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, criado em 1987 e realizado a cada ano pelo Iphan, tem por objetivo a valorização do patrimônio histórico e cultural do Brasil. Este ano, o prêmio está inserido nas comemorações do Ano Internacional dos Afrodescendentes e homenageia os 100 anos de nascimento do artista plástico Carybé.
A premiação de abrangência nacional promove o reconhecimento de ações de preservação e educação patrimonial que, em razão da sua originalidade, vulto ou caráter exemplar, são registradas e divulgadas para toda a sociedade. A edição deste ano recebeu 230 inscritos. Os sete vencedores passaram pela avaliação estadual, nas superintendências do Iphan, sendo selecionados entre os 81 projetos finalistas que foram avaliados pela Comissão Nacional de Avaliação, que no último dia 15 de setembro, indicou os premiados de cada uma das categorias.
Na cerimônia do dia 19, o Iphan também fará a entrega do Prêmio Viva Meu Mestre, uma iniciativa de estímulo e fortalecimento da tradição cultural da Capoeira, valorizando os mestres da tradição e reconhecendo sua contribuição para a cultura nacional.
Premiados da 24ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
Categoria Promoção e Comunicação
Ação: Projeto Turista Aprendiz
Proponente: Maracá Produções Artísticas e Culturais – São Paulo/SP
Categoria Educação Patrimonial
Ação: “OjóOdê” e “Afoxé AyóDelê”- Vivências Afrobrasileiras
Proponente: Espaço Cultural Vila Esperança – Goiás/GO
Categoria Pesquisa e Inventário de Acervos
Ação: Inventário da Arquitetura Residencial em Madeira
Proponente: Fábio Domingos Batista – Curitiba-PR
Categoria Preservação de Bens Móveis
Ação: Projeto Luzitânia
Proponente: Sociedade Canoa de Tolda – Sociedade Socioambiental do Bairro São
Francisco – Brejo Grande/SE
Categoria Preservação de Bens Imóveis
Ação: Ouro Preto - Um Novo Modelo de Gestão de Cidades Históricas
Proponente: Prefeitura Municipal de Ouro Preto – Ouro Preto/MG
Categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico
Ação: Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos
Proponente: Instituto Cultural Cidade Viva – Rio de Janeiro/RJ
Categoria Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial
Ação: Mapeamento Social das Benzedeiras dos Municípios de São João do Triunfo e
Rebouças do Estado do Paraná
Proponente: Movimento dos Aprendizes da Sabedoria – MASA – Irati/PR
Rodrigo Melo Franco de Andrade
O advogado, jornalista e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade nasceu em 17 de agosto de 1898, em Belo Horizonte. Foi redator-chefe e diretor da Revista do Brasil. Na política, foi chefe de gabinete de Francisco Campos, atuando na equipe que integrou o Ministério da Educação e Saúde do governo Getúlio Vargas. O grupo era formado por intelectuais e artistas herdeiros dos ideais da Semana de 1922.
Rodrigo Melo Franco de Andrade comandou o Iphan desde sua fundação em 1937, até 1968. O prêmio foi criado em 1987 em reconhecimento às ações de proteção, preservação e divulgação do patrimônio cultural brasileiro. Seu nome é uma homenagem ao primeiro dirigente da instituição.
Serviço
Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
Data: 19 de outubro de 2011
Horário: 18h30
Local: Sala Villa Lobos – Teatro Nacional de Brasília